• Inês Proença

Take it easy with your useless existence

Ela…

  Ela começou a pensar nela a dada altura, ela sabia que o tempo seria efémero e que a vida não parava para ela se decidir. Ela não reparava nela nessa altura...

  Ela tem pensado muito nela ultimamente, enlouquece com o passar do tempo e apercebe-se que tudo o que sonhou não passou disso mesmo. Ela está a ficar mais velha e a perder toda a inocência que tinha, mas  ainda assim pensa nela.

   Ela tem saudades dela e de a encontrar durante a noite, ela procurava um rumo e que pena que quando a encontrou estava tudo tão fusco que por mais eminente que ela estivesse era indiferente a sua existência…

  Ela diz como John Donne cita "nenhum Homem é uma ilha isolada" com a vontade que tem que ainda não seja tarde.

Ela descobriu que queria ficar mais perto dela,  que quando está longe dela se debela, ela quer desculpar-se mas não tem desculpas a dar, ela só tem pena de ter percebido isso agora, e suplica para que o tempo não tenha andando mais do que ela a adora.




  Lembro-me perfeitamente do dia e da hora, é imperdoável esquecer que aquele dia mudou a minha vida…  Foi estranha mas inesquecível a forma como contactamos pela primeira vez.
Super extrovertida, dou o primeiro passo para dentro da sala de aula e sento-me mesmo em frente à secretaria da professora, passou-me completamente ao lado o que estava a acontecer...
  Seguiu-se da apresentação e ela pergunta-me:
- Comment est-li possible que vous soyez si agréable et si désagréable en même temps?  
  Eu sem pensar muito com a máxima preocupação de ser engraçada respondi:
- É uma forma de arte. 

  Ela olhou para mim e disse:

- Tu és adorável, o teu sorriso aconchega o meu coração, e tens uma capacidade extrema de dar e receber imenso amor.

  Foi estranho ouvir aquilo pela primeira vez na minha vida, ainda por cima da parte dela. Ela que eu não conhecia sem ser das salas de aula velhas e húmidas, ela que eu via sempre entre a minha secretária e um quadro de giz, aquela que nunca tinha visto fora daquela autoridade carismática. 

  E disse: 

  - Enches-me às medidas, mesmo que isto seja só uma forma de motivação para a disciplina. 

  Gargalhou tanto com a minha ingenuidade, que me fez sentir especial com o sorriso lindíssimo que lhe arranquei do rosto, foi estranho nunca ter sentido o que senti naquele momento, como se de repente não existisse mais nada para além de nós, passei a ouvir o meu coração a bater nos ouvidos quando ela se preparava para enumerar qualidades ou defeitos completamente aceitáveis. 

  Até conhece-la eu achava que não era uma boa miúda e que não tinha sobrado nada de bom da minha infância, ela chamava de carisma ao meu mau feitio, eu mergulhava a fundo em cada palavra que ela dizia de forma poética, e a verdade é que eu gostei de ficar ali todo o tempo que fiquei enquanto pude ficar. Sentia-me inabalável, ficará diferente?     Eles diziam-me que eu estava diferente, mas que não era um problema ser diferente... Faziam-me perguntas às quais eu não tinha resposta, eu não pensava muito naquilo, eu estava a viver aquilo.

   Ela fez me descobrir que eu era assim e que não era capaz de ser de outra forma, capaz de sentir tudo ou não sentir nada, capaz de lhe perguntar:

   - Como é que foste capaz de nunca mais voltar? 

Acordo sobressaltada!!!

 - ufa, já tive pesadelos piores.

Oculto.


Ela não acredita, e diz:

- Não parece.

Já dizia Platão para não esperarmos perder para descobrirmos o que é importante na vida, não podemos dizer que nos faltam avisos quando temos  filósofos destes, a dizer estas coisas, parece-me é que sou a única a lê-los...

Tendo a esquece-la, escrevo para não pensar no que sinto e interpreto para não viver o que penso, ela deve saber que minto quando digo que não penso nela deve ser por isso que se ri e diz:

- Não parece.

Ela nunca viu para além do que lhe demonstrava, nunca me leu os pensamentos, nem decifrou o meu olhar, mas agora manda-me foder com todo o poder e controle sobre mim, percebi que ela se afastava como se eu já tivesse perdido todo o interesse, não havia mais nada que ela pudesse descobrir de mim, fui fácil de perceber.

Eles dizem-me muitas vezes:

- Pareces o saco de boxe que todos desejam ter no quarto para descarregar a raiva, e invés de sugarem a tua parte maravilhosa e apaixonada, maltratam-te obrigando-te a criar camadas de defesa que faz com que transpareças ser algo que não és, é apenas e só para te defenderes.

Nós acreditamos e por isso erramos, voltamos a errar ou porque somos uns esperançosos de merda ou porque somos só ridículos e não aceitamos que fracassar é importante e achamos que temos de estar sempre felizes.

Vejo-a todos os dias e apetece-me cuspir-lhe na cara por ter gozado com a minha dedicação, é horrível a sensação de que mostraste o teu diário ao teu maior inimigo e que depois disso ele ainda usou todas as tuas fraquezas para te humilhar, não era o meu diário era o meu melhor lado, não são as minhas fraquezas são as minhas características, eu gostava dela e ela não gostava de mim...

A Bia e o Diogo perguntam-me:

- Odiamo-la?

E eu neste estado de espirito respondo para dentro de um copo de vinho:

- Odiamos.

Mesmo sabendo que ela se vai rir e dizer:

- Não parece! 




Percorri todos os vértices de um quadrado!

   Conheci-te naquela escola enorme branca e azul, cheia de escadas, com aquelas telhas ressequidas, um ginásio enorme onde sempre que podias encontrava-te de olhos postos em mim. Foi ali que te conheci, acho que aquele lugar me deu o mesmo que me tirou, vivi o mesmo que tive de sobreviver...

… mágico, louco, exorbitante, patológico, abstrato eram as palavras que durante anos habitaram nos meus pensamentos.

   Culpei-te por não te encontrar mais na bancada, culpei-te por não celebrares comigo mais nenhuma vitoria e por não me abraçares em mais nenhuma derrota, já só conseguia ter atitudes irracionais e inexplicáveis, já só pensava com o coração, toda eu ambicionava ter-te ali…

   Que merda, como a maior parte das vezes o amor da nossa vida serve de experiência mais dolorosa e influente e  magoa mais do que qualquer outro, tudo bem que temos o benefício de nos suceder uma dose significativa do nosso crescimento pessoal mas fodasse! 


 Diz o meu inconsciente.

The rest is Silence...

nOtHInG ELSE MATTERS...

Fuck, now the days are shorter. 

I hate the end of the year, the short, cold and dark days and you know! You know how much I hate this. The high collar time, socks up to your knees, the shoes that keep slippering and the claustrophobic overcoats that deprive me from liberty. You know why I have this suicidal face that I hide really well when the sun doesn't set behind the clouds… 

FUCK IT, maybe you don't know but I think you do…  

C'mon, you know that I'm getting happier by being alone, completely sure that I'm not saying this 'cuz I'm being defensive for not having anyone by my side, but 'cause tragedy is our existence and this is hard to understand, understand that in the solution we'll be cowards.

 We feel like not giving a shit about all of this because we don't belong in this world, nothing satisfies us and nothing is ever enough,'cause we all want to change the world in a way to put it in it's real shape, and to change it, we need to die, that's what we don't want. We understand we're cowards, and that's what makes us not belong in this world. 

We have futile goals in life, the reason why we get up every single day is a tragedy, our existence is a tragedy. 

We're useless when we fight for survival, we spend a life caring about eternity, and that makes us forget we're ephemeral. We are superstitious because we don't have all of the answers. We ask ourselves if God exists, alright, I think that's not the question, the question is, if He exists, he's not giving a shit about any of us. 

When the sky is grey and the noise that we hear the most is the rain, when I can smell the heated milk and I find used tissues in the pockets of my jacket I remember you and how you didn't give me space to think, that's why I'm getting happier by being alone. 

You held me for pity, and it's ridiculous how I could be happy like that for the rest of my life,  I'm a slave with so much love to give, and when I feel like I'm getting stuck on that, that's when I wish to be reborn but without knowing you this time.

I've never dreamed about living a nightmare and I should have done it, 'cause I'm living a nightmare, we're all living a nightmare. We should have done plans for that!! But we never make fucking plans and we set goals without obstacles. We think about living a dream and we forget that living with shit to learn, lessons, accidents, heartbreaks, are not part of a dream. We don't dream about living in a world where no one understands us but this is the world we live in, our demonstrations of affection make us weaker, and we're not allowed to do that.

- I want to be happy fast because I'm tired of being unhappy, should I die? Why doesn't anyone make plans to live a nightmare? - She asked

- 'cause a world in it's real shape holds us for love and not for pity. - I said this while I wrote and rewrote in the pages that complete my thoughts, when the ashtray is full and the cups are rotten, I'm not sorry for the way I found to glue what you've broken.

- Her abscence is na emptiness similar to death. The non-existence is better than the existence. It was a good route.- Said my grave-digger

Free fallin'...

Não sei o que escrever sem que percebas que os meus pensamentos se interpelam, que a minha respiração é ofegante e que não durmo à espera que chegues, que chegues nas maiores das loucuras e que me peças para te abrir a porta, que te sentes no meu sofá e que me peças um copo de vinho…

Tenho estado a adormecer sobre garrafas vazias, paira uma nuvem de fumo sobre a minha sala estou em queda livre… Perco-me a construir lindos textos, escolho as mais bonitas palavras para leres e fracasso e fumo, fumo mais um cigarro… Como se não existissem palavras que segurassem o cordel da nossa distância.

Estou quase a fechar os olhos e ainda não escrevi nada de jeito, nada de bonito, nada de amor ou paixão, nada de dedicatórias, nada de metáforas, nada de adjetivações às tuas diversas qualidades, nada… 

Pede-me que te ligue antes de irmos dormir, pede-me que não me destrua porque precisas de mim, pede-me que fique, que cometa a maior das loucuras e que fuja contigo para África, pois quem disse que fugir não seria benéfico? Pede-me que arrume as garrafas porque hoje trazes morangos, pede-me que te ame, ou melhor... não peças!

Deixa-me amar-te sem que me digas:

- e depois?

E obrigares-me a responder que sou suficientemente forte para viver sozinha, chamando-me egoísta. 







- Os dias são cada vez maiores e isso assusta-me, parece que nunca mais acabam, a  vida já é longa o suficiente para dias maiores…

Mais um dia que vou para casa fechar as cortinas porque prefiro estar às escuras, escrevo os meus textos e esvazio mais uma garrafa em homenagem aos que perdi, todos bebemos pelo mesmo… 

São três da manhã e conto com dois maços vazios em cima da mesa da sala, é natural, morro mais um pouco para cada texto que escrevo e isso faz-me sentir útil, é a única coisa que faço que  responde à minha inquieta questão de existência...

Cresci depressa porque não existia tempo para esperar, e agora aqui estou eu a desperdiçar tempo porque estou destruída demais para pousar o copo ou o cigarro no cinzeiro, largar as palavras sagradas de Bukowski, deixar um texto meu a meio e sair de casa, e fazer o quê? existir? meter-me ao sol e conviver com as pessoas fingindo que não são todas apenas companhias momentâneas e falsas ilusões que a vida arranjou como significado?

Continuo a cometer os mesmos erros como se nada tivessse ficado das experiêcias passadas...

Vivemos num mundo cheio de noites más. As pessoas têm medo do dia, eu tenho medo da noite, antigamente elas serviam para dormir, hoje eu não consigo dormir e quando fecho os olhos reabro de imediato porque tenho medo. As pessoas têm medo do dia, mas é à noite que vive a hora dos lobos, é à noite que somos perseguidos pela angústia, é à noite em que a maior parte das pessoas morre, maior partes das crianças nascem, é a hora em que se estivermos acordados temos medo!

Abro as cortinas porque tenho um buquê de rosas na minha mesa de cabeceira, prometi cuidar delas como cuidaria dela, e nisso eu não vou falhar elas precisam de viver um pouco mais do que eu vivi…

- vou fumar, 

disse ela

A maior parte das coisas que acontecem toda a gente sabe que não são controladas por nós, acordei mais cedo do que nos outros dias e já não era algo claro na minha cabeça, até que me comecei a esquecer-me de ti.

As sombras são maiores agora e essas eu quero que se fodam, que o mundo se ocupe da sua melancolia, nós não controlamos nada, da mesma forma que não existem ligações naquilo que nos acontece, o universo está se a foder para nós. 

- Chama-me egoísta, diz-me que não penso em mais ninguém à minha volta e que é tudo isso que te faz gostar ainda mais de mim...

Riu-me e continuo o meu texto, acendo um cigarro e percebo que só existirá amor quando existir guerra, e aplaudo-vos de pé…

Tinha os olhos em lágrimas, ficava em silêncio enquanto ouvia a tua respiração,tinha o coração cheio, sentia borboletas na barriga e pedia-te que fugisses comigo, é a minha mais bela característica esta impulsividade infantil com que te peço para fugires comigo, sonhámos durante horas como se estivéssemos a partilhar a mesma cama, a esperança que me dás é uma droga alucinógena,

- a minha respiração acelera vou sufocar…

Já é tarde, são 04 da manhã e não consigo escrever mais nada, ouço a tua música preferida em loop, daqui em diante todas as noites que me restarem vou adormecer bêbeda não vai demorar muito até não ter de enfrentar mais nada.

 Até lá, vou só escrever sobre o mau que é não sentir nada, como nos apaixonamos pela nossa patologia, somos todos submissos às nossas emoções uns mais que outros e isso não faz ninguém melhor que ninguém, ou mais correto ou menos egoísta, a diferença é a coragem, a coragem para dizer o que sinto a quem e quando… E o quanto isso nos torna a todos mais bonitos, o amor…

- Vou continuar a querer que tudo se foda, aquilo que sinto por ti é belo demais para ser censurado… O quanto eu tenho medo de não acordar no dia seguinte, e de não te ter ligado no dia anterior…

Assumir as nossas fragilidades é um passo para a voz da humanidade, não é um erro!

Amanhã é outro dia, mas a vida é a mesma…



Linha ocupada

   Peguei no telefone, saí do restaurante levei um cigarro e fui até lá fora, não aguentava mais o silêncio entre nós, o barulho da nossa distância inquietava-me!
Ligo-te tento que me ouças e do outro lado da linha percebo que desligaste assim que percebeste que era eu… Desligaste e isso é uma prova.
   É à noite que mais me lembro de ti, que mais vontade tenho de pegar no telefone, de te bater à porta sem que me recuses o lindo buquê de flores, é à noite que nos imagino, como seria confortável ter-te à minha espera...
   Gostava que fosse impercetível esta humilhação mesmo sabendo que é o preço a pagar pela partilha. Estou tranquila o que dou é meu para sempre, o que guardo desvanece. 

   Eles não acreditam em mim e tu também não, mas eu penso em ti antes de dormir, sonho connosco é a única forma que eu tenho de te manter em mim. Não faz mal, estou sempre a despedir-me das pessoas, ocupo-me da minha própria melancolia. A nossa imaginação será sempre a única realidade que nos pertence.

 - Poupa me as tuas palavras, não digas que lamentas e que a vida às vezes é assim, que o tempo cura tudo, desliga o telefone outra vez!


Esta noite morro mais um bocado, por me esforçar para acreditar, que tudo isto faz sentido.

 
- Cuidado para não tropeçares no que fingiste não sentir, (desligo o telefone, tenho uma chamada em espera)

       The most beauty butterfly

   Chego a casa e tu não estás, podes estar em qualquer parte do mundo menos à minha espera quando chego a casa...
Quero chegar a casa e ter-te a ti, olhar-te nos olhos, dizer tudo aquilo que acho que já disse, e  acrescentar qualquer coisa que ainda não foi dita, dizer que gosto de ti com uma intenção diferente cada dia...
   Então continuo a fingir, a fingir que estás à minha espera, a fingir que te encontro quando chego a casa, a fingir que existimos, a lembrar-me da tua voz como se ao mesmo tempo falasse contigo. 

   Lembro-me do teu cabelo, da tua forma de andar, da tua forma de te colocares na melhor posição para conseguires olhar para mim sem que ninguém perceba… E os teus olhos, lembro-me dos teus olhos como me podia eu esquecer de escrever sobre a cor dos teus olhos? Tenho saudades que me olhes com os teus olhos...
   Foram as únicas coisas que me deixaste ter, as tuas palavras, a tua voz ao telefone, as tuas mãos, essas mãos que fugiam sempre para as minhas no calor do momento, o teu abraço, o abraço apertado que me deste como se não me quisesses deixar ir, as tuas lágrimas, e o teu beijo, deixaste-me o teu beijo...
   Chego a casa, são 03 da manhã e não te encontro, acendo um cigarro, escrevo e percebo que a única forma de deixar de pensar é adormecer. E morro, morro mais um pouco para te amar...
   Estamos numa corrida contra o tempo e tu não estás aqui. E eu tenho medo, medo que nunca venhas realmente a esperar por mim no final do dia, medo da tua ausência, medo que deixes de pensar em mim...
   Ultimamente só me sinto bem a escrever, sinto-te comigo cada vez que escrevo, sem ouvir nada nem ninguém com todo o espaço para as minhas interjeições, sem que os meus silêncios sufoquem no barulho da multidão, já não me sinto… Digo isto numa altura em que percebo que é melhor sentir alguma coisa do que não sentir nada, é quando sentimos que percebemos que estamos vivos!

- Lembras-te daquela vez que os nossos olhos se encontraram e nós sorrimos? Daquela vez que namorámos até a meio da noite do dia seguinte?
   

   É fácil gostares de mim, não puderes estar comigo é compreensível, mas não é disso que se trata, é mais que isso, mais do que dizer que um escritor é bom, é lê-lo todos os dias, é ser influenciado por cada palavra, é respirar cada estrofe… O mesmo se aplica, mais do que gostar, é querer ler-te todas as manhãs, respirar em conjunto no ritmo do universo, desejar-te boa noite ainda que durmas comigo...
   Um sonho, foi só um sonho, sonhei que me tinhas ligado, que eu tinha atendido e que fugimos. Agora que escrevo até tenho dúvidas se foi um sonho, ligo-te para confirmar, linha ocupada…


- Vamos sonhar só mais uma última vez? Viver só mais uma última vez aquela história que inventámos?

pergunto eu

- Não, claro que não precisas de responder mais uma vez à mesma coisa...
Eu calo-me, esgoto as palavras, esqueço-te, termino este texto e fumo, sozinha no escuro e sem ti. E desisto… Deixo-te ir… 

Seguras a minha mão e dizes:

- Desculpa

   Mete o buquê debaixo do braço e voa. Quando se gosta de alguém não existem gaiolas…


- Já quis morrer, agora quero voar

Manchas de um copo de vinho

   Não consigo escrever, não percebo o que sinto, talvez seja por isso que não consigo escrever, fico sempre a sentir-me assim, como se não sentisse nada, perdida nos meus pensamentos, sem reação.
- Quero estar em silêncio!,
O que tiver de ouvir que seja o que me apetecer, eles ligam-me para eu falar do que aconteceu e eu, não...
Eles perguntam-me:
- não sais de casa hoje? Deste quarto escuro onde paira o cheiro do teu corpo entregue à cama numa longa noite de sono?
- não sei,
Digo eu
- Estou perdida,


Uma vez disseste-me:
- Queres estar comigo porque eu sou uma pessoa resolvida! 

- E tu não queres estar comigo pelas minhas crises existenciais!
disse-te eu.

- não, isso fascina-me… 

   Gostei de ti por estes diálogos, gostei de ti porque nunca precisei de te dizer nada, gostei de ti desde aquele dia que entras-te por aquela porta, e ignorei.

- Fodasse! Perdi-te no dia em que te encontrei!

   Sempre ouvi dizer que o amor é um obstáculo, um obstáculo tão grande capaz de fazer com que… 

   Pedes-me que vá, que esqueça que existes e que vá. Depois ages como se nunca o tivesses dito, roubas-me a atenção, fazes com que os nossos caminhos se cruzem vezes sem conta, dás-me a tua mão e pedes-me que a largue? Pára tu! 

- Pára! Faz o que me dizes para eu fazer, e eu não reparo mais que existes.

   Caso contrário eu tenho vontade, vontade sim, não uma vontade sexual suspeitada por muita gente mas uma vontade de amar, de demonstrar esse amor, vontade que viesses procurar abrigo nos meus braços, vontade que olhasses para mim, eu sei que me sentis-te era difícil isso não acontecer, eu estava à tua frente e tu fingias que eu não estava ali, e eu só tinha essa vontade, vontade que olhasses para mim assumidamente, vontade que me tivesses feito outro tipo de promessa senão aquela, vontade que fosses comigo, não precisávamos de fugir, de ir para longe, não, nada disso precisávamos de ir, tu e eu, não contra o mundo, nada disso também, não se fala de desafios, de tirar partidos, fala-se de felicidade, ir com a vontade que temos de ser felizes.
Recusas, e mentes quando dizes,
- eu sou feliz (e pedes que páre, pedes que não torne as coisas mais difíceis do que são)
- Porquê?,
pergunto eu.
Como se eu já não tivesse poucas questões, ainda me fazes ter mais...
- Porque tornas tudo isto mais difícil? Porque gostas de mim? Fodasse eu também! E eu, eu não consigo desistir, por isso, desiste tu! Desiste por nós.
- Não brinques com a minha cara (bato com o copo de vinho e saio)

Não é a casa de madeira que anceio construir contigo ou o buquê que te dei que são notáveis, mas sim os textos que escrevo em páginas manchadas de vinho.




  Queria estar aí agora neste preciso momento. Podia nem começar a escrever este texto para ir para aí agora. 

  Hoje é a nossa noite de cinema, todos os sábados fazemos uma noite de cinema, tomamos um banho quente, eu faço umas pipocas e tu estás no sofá à minha espera cheia de mantas e com a lareira acesa. Os dias de inverno são mais longos… Mais frios e quase nem me dá vontade de existir. Nunca consigo ver um filme até ao fim, adormeço sempre nos teus braços, ultimamente é o lugar mais seguro que tenho conseguido encontrar para ficar. Hoje tenho a certeza que seria ao contrário, tu deixavas as pipocas queimar enquanto eu esperava por ti no sofá, hoje eras tu que adormecias… Hoje eras tu que não vias o filme até ao fim. Mas é ridículo eu ir para aí agora, - Agora Inês, a esta hora fazer o quê?

   Eu não sei se eles não percebem o quanto isto é importante, eu acho que não, não eles não percebem. Para eles o amor é uma desculpa para o medo que temos de envelhecer sozinho. Levamos a vida toda a achar que precisamos de estar de alguma forma com alguém, e quando finalmente encontramos alguém é...  Tenho frio. 

  Sei que pareço uma miúda insensível, mas não. Não sou assim. Sou frágil. E as pessoas não compreendem isso, acham melhor dizer que não prestas para nada, do que te conhecerem e admitirem que se enganaram nos juízos de valor. Acho que não percebes bem como chegar a mim e preferes desculpar-te com uma arrogância que não existe. Não falo muito com ninguém é verdade, mas porque a maior parte das vezes não tenho nada para dizer ou acho que não vale a pena. E quando tento dizer alguma coisa estás tu aqui, à minha frente, a ler, e eu a escrever, e tu com vontade de me perguntares, - se vimos um filme sem eu adormecer. 

   E eu gosto de ti, acho que é a única coisa que gosto realmente, de ti. Já cá estou, hoje adormeces tu.

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